Desde cedo, eu percebia que a antena sensível do Vinícius para o mundo também era a fragilidade dele

Acima, depoimento do pai do cantor Yoñlu à revista Rolling Stone (março de 2008). Estamos no setembro amarelo, por isso resgato essa história. Yoñlu é o nome artístico de Vinícius Gageiro Marques, que se se suicidou aos 16 anos. Sua trajetória foi apresentada no filme Yonlu (direção de Hique Montanari).
Thalles Cabral estrela.

 

O quarto de Vinícius era seu ateliê. Nele, concebia ilustrações e gravava canções, nas quais tocava todos os instrumentos. Das mais de 60 músicas encontradas por seu pai, 12 faixas foram reunidas no álbum póstumo A Society in which no tear is shed is inconceavably mediocre (Uma Sociedade na qual nenhuma lágrima é derramada é inconcebivelmente medíocre). A obra foi lançada selo norte-americano Luaka Bop, de David Byrne.

Vinícius se matou em 2006, em Porto Alegre. Na internet, encontrou informações sobre o método e estímulo -inclusive durante o ato- para se suicidar. A experiência de Vinícius foi acompanhada ao vivo, num fórum de incentivo ao suicídio. Há dez anos, A revista Época já abordou esses espaços virtuais que incitam pessoas a tirarem a própria vida

No período que antecedeu seu suicídio, Vinícius estivera internado domiciliarmente por depressão. O diretor do longa, Hique Montanari, afirma que o filme busca valorizar a vida e refletir sobre os riscos da internet: "mostramos que ele vivia uma crise passageira, que poderia ser superada. Mas, em vez de receber um abraço, levou um empurrão [o incentivo do fórum virtual para que se matasse]."

Mário Corso, psicanalista que acompanhava Vinícius, segue caminho similar:

Não vamos achar que a internet é uma coisa ruim a priori. Ele construiu a obra dele na internet, a troca de músicas que resultou no disco interessante que ele fez foi graças à internet. A internet pode ser extraordinariamente interessante, ela possibilita encontros que não estavam colocados antes. É o paraíso dos solitários, das pessoas tímidas. Tem proporcionado a construção de laços entre pessoas distantes. Agora, por outro lado, a internet possibilita também o contato de outro tipo de coisa que nunca aconteceria sem ela. A internet não criou nenhum tipo de doença mental, todas elas pré-existiam. Mas ela possibilita o incremento de certas morbidades por uma possibilidade de compartilhar e, a partir disso, criar uma identidade. Um exemplo é o que acontece com a anorexia, uma doença gravíssima, muitas meninas morrem disso. Antes da internet, uma não encontrava a outra. Com a internet o que elas conseguem? Trocam idéias sobre a anorexia não no sentido da auto-ajuda, mas da manutenção da patologia. E da glamourização dela. Encontram alguém que as apóia em permanecer nessa atitude doentia, a construir uma identidade a partir dela. [...] Na medida em que ele consegue compartilhar isso com outras pessoas na internet e descobre que há um monte de gente como ele, isso faz com que tenha coragem de se pensar enquanto grupo. Não como doente, mas como um estilo. A internet possibilita uma série de coisas extraordinárias, mas também uma série de coisas doentias.

CVV – Centro de Valorização da Vida  
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